quinta-feira, 31 de outubro de 2013

A CM CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA QUE PRESTA SERVIÇO PARA O GOVERNO DE PERNAMBUCO ESTÁ DESTRUINDO AÇUDE DA LUCIANA EM SERRITA






EM SERRITA É ASSIM...

A empresa CM Construções e Serviços Ltda. que presta serviços para o governo do Estado e responsável pelos serviços na PE 507 que liga Salgueiro a Serrita está com seus funcionários e equipamentos alojados  na fazenda VARZINHA de propriedade do prefeito Carlos Cecílio, mas não estão usando água do açude da fazenda para os trabalhos da PE 507, e sim, destruindo o Açude da Luciana que pertence ao povo serritense. Isso é crime ambiental.  Como fica a situação? A empresa vai continuar? Confira as fotos que foram enviadas, hoje por um morador de Serrita, onde mostra a destruição do açude que já está quase seco.




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

FERNANDO BEZERRA COELHO DE OLHO GRANDE NA PREFEITURA DE PETROLINA




PREFEITO DE PETROLINA/PMDB JÚLIO LOSSIO

PSB pedirá execução da sentença que determinou a cassação de Júlio Lossio

O Partido Socialista Brasileiro vai entrar com uma ação nesta quinta-feira pedindo a execução da sentença do TRE que cassou o mandato e os direitos políticos por 8 anos do prefeito de Petrolina, Júlio Lossio (PMDB).

O pedido será despachado para o juiz eleitoral de Petrolina.

Em seguida, o magistrado notificará o presidente da Câmara Municipal para dar posse ao segundo colocado, que foi o deputado federal Fernando Filho (PSB).

Isso não significa, entretanto, que a batalha jurídica já chegou ao seu final.

É que o prefeito Júlio Lossio também protocolou ontem no TRE um Recurso Especial pedindo a reforma da decisão que cassou o seu mandato.

Este recurso seguiria hoje para o TSE para ser examinado pela relatora dos processos de Petrolina, ministra Laurita Vaz.


Como não tem efeito suspensivo, o deputado Fernando Filho poderá tomar posse como prefeito, mas com uma particularidade: terá que renunciar ao mandato.

Lêucio Lemos, advogado do prefeito, informou hoje ao Blog  que Júlio Lossio vai ajuizar também no TSE uma Ação Cautelar pedindo para ficar no cargo até o julgamento do Recurso Especial.

Se o pedido for deferido, Fernando Filho, se já tiver sido empossado, terá que deixar a prefeitura e aí ficará sem o mandato de deputado e sem o mandato de prefeito.

O jogo dessa disputa é pesadíssimo porque coloca em campos opostos dois candidatos a presidente da República: Dilma Rousseff e Eduardo Campos.

É que se Lossio vencer a parada, fará campanha pela reeleição de Dilma e se o vencedor for Fernando Filho, fará a campanha de Eduardo Campos.
Fonte: Inaldo Sampaio

DEPUTADOS ESTADUAIS APROVARAM UMA IRRESPONSABILIDADE, AO ISENTAR IPVA PARA MOTOS COM BAIXA CILINDRADA




ESSA BONDADE COM O ELEITOR DO INTERIOR, POR DEPUTADOS QUE BUSCAM RENOVAR O MANDATO NO ANO QUE VEM, VAI CUSTAR CARO PARA A ÁREA DE SAÚDE E PARA OS COFRES DO GOVERNO.  

Outros estados do Nordeste já haviam aprovado proposta semelhante, mas os nossos deputados não precisavam copiar.
Sem alarde, os deputados estaduais aprovaram nesta terça-feira uma irresponsabilidade. A concessão de isenção de IPVA para as motos de pequenas cilindradas é um crime, ao incentivar o uso destas máquinas, ainda mais. Já morre uma quantidade enorme de jovens com a situação atual, imagina-se agora, com o incentivo à compra.
O projeto beneficia agricultores pernambucanos inscritos no Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Eles poderão ficar isentos de pagar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) na compra da motocicleta de até 150 cilindradas de potência.

A isenção é para quem mora fora da Região Metropolitana do Recife.

Pode ser usado na compra de uma motocicleta zero quilômetro e emplacada no mesmo município onde fica a propriedade do agricultor e é válida exclusivamente para o ano da aquisição da moto. Nos seguintes, o proprietário precisará pagar o IPVA.

O pagamento do seguro obrigatório continua sendo exigido.
Até o deputado Daniel Coelho, oposição ao governo na Alepe, votou a favor da nova lei.

Em entrevista ao G1, que informou em primeira mão a aprovação do projeto, ele disse que não vê contradição entre o incentivo à aquisição de motocicletas e o esforço para prevenir acidentes.

“Considerando que você vai estar baixando tributo e dando uma melhor condição de vida a pesoas carentes que moram no campo, acho que o projeto tem mais ganhos do que perdas. A gente está baixando impostos e diminuindo o custo de vida da produção rural”, explicou-se. Errado. O jegue eletrônico está matando milhares pelo interior, com custos para o Estado, que não produz impostos.

“Já a Secretaria de Saúde contabiliza o número de pessoas atendidas nos hospitais do estado por causa de acidentes com motocicletas. No ano passado, foram 30.200. Este ano, 18 mil até agosto. Somente nos últimos dois anos, 1,6 mil pessoas perderam a vida em acidentes com motos”, informou a reportagem do G1.


CAIS DO SERTÃO LUIZ GONZAGA


O cineasta Paulo Caldas já começou a filmar, no sertão de Serrita, Lua, uma poesia audiovisual que fará parte da instalação permanente do Museu Cais do Sertão Luiz Gonzaga, a ser inaugurado no dia 13 de dezembro, em 7.500 m2 do Porto do Recife. O filme, sobre a vida e a obra do Rei do Baião, vai dividir o espaço 'Caixa' com os documentários As línguas do sertão, sobre o falar sertanejo, e Cordel.

O museu será uma transposição poética do universo sertanejo. Na entrada, por exemplo, um juazeiro, transportado numa operação delicada, dará as boas vindas aos visitantes.  Armazém com projeção em 220° com filme sobre a vida do homem sertanejo, além de roupas e sanfonas de Gonzagão e exposições também farão parte do mega projeto cultural, orçado em R$ 97 milhões.
Fonte: Hall Social por Daliana Martins

sábado, 26 de outubro de 2013

PLACA DE INAUGURAÇÃO DO PSF DE SÃO FRANCISCO DO BRÍGIDA EM SERRITA, CAUSA INDIGNAÇÃO

Como sabemos os vereadores de Serrita aprovaram por unanimidade o nome do senhor Sebastião Ribeiro para o PSF de São Francisco do Brígida, mas na placa que foi colocada no último sábado, pelo prefeito de Serrita Carlos Cecílio, na ocasião da reinauguração do referido PSF, não consta o nome do principal homenageado que ficou isoladamente na placa do anexo. Na placa principal, consta como homenagem especial os nomes da primeira dama e da irmã do prefeito. Sabemos que isso é promoção pessoal. Atentado aos princípios da administração pública como impessoalidade e moralidade administrativa. Assim passível de correção judicial e possível responsabilização por ato de improbidade administrativa. 


Pergunto: o que essas homenageadas especiais fizeram pelo povo de São Francisco do Brígida para constar na placa do PSF e não o filho ilustre de São Francisco do Brígida?

Esse desatino do prefeito causou indignação de muita gente. Ismenia Sampaio que foi vizinha da família do senhor Sebastião, publicou um comentário de protesto e pede à família que não aceite esta falta de consideração.
Leia na íntegra, o que diz Ismenia:

“Vamos recordar aqui quem realmente foi o cidadão Sebastião Ribeiro para a cidade de Serrita: Vereador do povão, caridoso, homem de fibra e que corria atrás dos direitos do povo necessitado, um amigo para todas as horas, não queria saber se era de dia ou de noite para servir a quem dele precisasse daquele jipinho que ele tinha, era somente para servir ao povo de SERRITA E DA ZONA RURAL. Fui vizinha dele por muitos anos e presenciei de perto o atendimento que ele e sua esposa prestavam ao povo que vivia se aglomerando em sua pequena e humilde casa. Todos eram recebidos com maior carinho. Esse homem que falo é digno de homenagem, placa, e aplausos e não de uma placa solta com o nome ANEXO, maior do que o nome do homenageado. Isso é falta de consideração e respeito. Chamaram até o filho dele, Edilanio, para descerrar a mine placa, esse que está de camisa vermelha puxando o pano. Isso é uma piada, espero que os familiares do senhor SEBASTIÃO RIBEIRO não aceitem esse desmando. SEBASTIÃO RIBEIRO foi um grande homem que merece respeito. FICA AQUI O MEU PROTESTO”.

ACORDA SÃO FRANCISCO DO BRÍGIDA!
ACORDA SERRITA!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ENTREVISTA COM WASHINGTON QUEIROZ SOBRE A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE VAQUEIRO



Logo após a Regulamentação da Profissão dos Vaqueiros, pelos senadores no dia 24 de setembro passado em Brasília, entrei em contato com o antropólogo Washington Queiroz para que concedesse uma entrevista exclusiva para o Blog da Serrita dos Meus Encantos e Desencantos, onde poderia explicar melhor para os leitores como tudo começou e o seu envolvimento com esta categoria, que agora, depois de mais de 400 anos, foi reconhecida por Lei.
Com Fátima Canejo
FC. 1 – Como surgiu o seu envolvimento com os vaqueiros da Bahia e posteriormente do Brasil?

WQ - Moro em Salvador desde os 19 anos, mas nasci em Feira de Santana. Atrás de minha casa passava a famosa estrada de boiada. Na infância, via, de cima de uma lata de querosene, por sobre os muros do quintal, aquelas boiadas imensas a passar... passar... e parecia que não ia acabar. E os vaqueiros... São imagens inesquecíveis para um garoto de 5 a 9 anos. Creio que é daí o gérmen desse meu envolvimento. Agora a relação com os vaqueiros do Brasil, é mais recente e posterior aos estudos. 

FC. 2 – Recentemente foi aprovada a Lei de regulamentação da profissão do vaqueiro, qual a sua participação nesse processo?
  
WQ - É uma luta histórica de muitos daqueles que defendem a cultura do sertão e seus primeiros sertanejos – os vaqueiros. Cada um contribuiu da sua forma, no cinema, na literatura, na música, como Gonzagão, Elomar etc. No Cordel de tantos; na esplêndida tradição oral... O sertão comove, seduz... Tenho informações da luta que muitos fizeram pela cultura sertaneja. Pelos vaqueiros, aqui na Bahia, desde 1954 - o ano em que eu nascia -, me ocorre o nome de Eurico Alves, poeta baiano, também nascido em Feira, que quis convencer as autoridades feirenses da época a construir um Museu do Vaqueiro em Feira de Santana.

Como antropólogo, iniciou trabalhando com migrantes. Depois com índios da Amazônia e da Bahia em 1984. Após o trabalho conceitual, que no IPAC, ajudei a construir, sobre a política de preservação do patrimônio cultural da Bahia, em especial sobre o seu patrimônio imaterial, criei (e convidei alguns colegas para trabalharem comigo) o projeto Histórias de Vaqueiros: Vivências e Mitologia.  Ai se inicia, em 1984, o processo que culmina com a aprovação do Reconhecimento e da Regulamentação da profissão de vaqueiro. E, espero que em breve, possamos comemorar, também, o reconhecimento do Ofício de vaqueiro – seus saberes e fazeres -, como Patrimônio Nacional, cujo processo demos entrada e tramita no IPHAN. Aqui na Bahia já conseguimos. O Ofício de Vaqueiro é Patrimônio Cultural da Bahia desde 2011.

Sobre a minha participação no processo de Regulamentação, ela se ele deu como professor em sala de aula; através das pesquisas na peregrinação pelo sertão da Bahia, onde rodei perto de 70 mil km; publicações em livro, ensaios, artigos, palestras, entrevistas etc. E também na militância; articulações e agora, (o que foi decisivo para a aprovação) com a minha amiga Senadora Lídice da Mata. Ou seja, sempre buscando sensibilizar as pessoas em prol da causa por onde quer que eu tenha passado como aconteceu mais recentemente nas Conferências, Estaduais e Nacionais de Cultura, no Conselho Estadual de Cultura da Bahia e no Conselho Nacional de Política Cultural do Minc. E atualmente na Secretaria de Cultura da Bahia, no Centro de Culturas Populares e Identitárias – CCPI, onde trabalho. E, em nível nacional, agora, no Colegiado Setorial de Patrimônio Imaterial do CNPC, onde sou membro.




FC. 3 – Como aconteceu a ida desses vaqueiros para Brasília? Quem articulou e quem patrocinou a viagem, estada e alimentação?

WQ - Após a luta que tivemos em 2010 e 2011 para aprovação na Câmara (com a colaboração do ex-deputado Edson Duarte, ao qual procuramos e que trabalhou junto com o ex-deputado Mão Branca - grande defensor da cultura sertaneja),  o Projeto de Lei já estava a mais  de dois anos aguardando para ser votado no Senado Federal.  Via Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC/Minc, propusemos, e foi aprovada por unanimidade, uma Recomendação ao Senado pedindo o Reconhecimento e Regulamentação; no dia 13 de dezembro de 2012 pedi, pessoalmente, a Senhora Ministra da Cultura Marta Suplicy (que é senadora), mas o projeto continuou parado no Senado. Então, decidi procurar uma pessoa amiga, a Senadora Lídice da Mata. Expus a situação para ela e pedi ajuda para o plano de entrar no Senado no dia votação com 150 vaqueiros encourados... Precisava da sua ajuda para fazer o Projeto andar no Senado. Ela imediatamente se sensibilizou e começamos a trabalhar. Fiz um texto/discurso para ela se embasar, nos articulamos, e a coisa começou a andar. Ela fez todo um trabalho de convencimento no Senado com vários senadores, fez dois discursos no Senado, apresentou Requerimento de Urgência que foi aprovado e contou com o apoio do Senador Renan. Sugeri que além dos vaqueiros da Bahia, seria importante no dia da votação a presença de vaqueiros de Pernambuco e de outros estados. Conseguimos sensibilizar Pernambuco e Alagoas e tivemos também alguns representantes do Piauí e do Maranhão. Desse modo, com apoio de Lídice e de pessoas amigas, inclusive, no caso dos vaqueiros da Bahia, alguns parentes que contribuíram e conseguimos transporte para trazermos os vaqueiros até Salvador e, em um ônibus, levamos os vaqueiros para Brasília. Fui com eles. Foram três mil quilômetros do dia 22 ao dia 25 de setembro.


Senadora Lídice da Matta/PSB-Bahia

FC. 4 - Na sua visão, o que vai mudar na vida desses vaqueiros, após a sanção da presidente Dilma Rousseff?

WQ - Penso que as coisas não mudam em um passe de mágica. Uma conduta de quase cinco séculos não se muda da noite para o dia. Claro, a Lei é um marco legal que dá sustentação jurídica. Os vaqueiros passam a ter direito de ter a sua carteira de trabalho assinada como Vaqueiro, pois agora é uma profissão regulamentada pelo governo. Terão direito a férias, 1/3 de férias, 13º salário, horas extras, periculosidade, aposentadoria como vaqueiro, previdência, seguro desemprego e todos os direitos legais.
Naturalmente, acredito que muitos patrões serão sensíveis e reconhecerão esse direito de imediato, o que significa melhorias imediatas para o vaqueiro. Mas nos casos de dificuldade dos vaqueiros terem seus direitos negados, como qualquer profissional brasileiro, terá uma base legal na justiça do trabalho para recorrer e fazer valer seus direitos.  Isso sem dúvida, da mais segurança.

Outra coisa, muito importante, no meu entender, é que esse reconhecimento da profissão gera auto-estima, confiança, respeito e valorização da profissão. É simbólico, mas faz, por exemplo, com que o vaqueiro tenha o reconhecimento não só de fato, mas também de direito de toda sociedade. Para a família é também importante; para o filho, a mulher etc., vê que a sua profissão é reconhecida. O vaqueiro deixa de ser social e culturalmente o excluído para ter o devido pertencimento. Por exemplo, o IBGE nunca trabalhou em seus censos com a categoria ocupacional “vaqueiro”. Tudo era trabalhador rural. Não se sabia e não se sabe quantos vaqueiros tem por cada município, por estado e no Brasil. Agora teremos que ter essa categoria. E, finalmente, saberemos quantos vaqueiros tem em cada estado e no país. Afinal esse homem é muito importante para o país, inclusive, para a sua economia. Não podemos deixar de lembrar que este ano o próprio IBGE divulgou números que informam que a carne é o 2º maior produto interno bruto do país. E quem é o profissional que lida direto para que isso aconteça? Isso precisa ser considerado. O vaqueiro nunca deixou de ter grande importância para o país. Por isso sua situação de vida precisa melhorar para fazer jus à contribuição que deu e continua dando ao país.

FC. 5 – O senhor acha que os proprietários de fazendas da região do sertão, estão preparados para cumprir com o que determina a Lei?



WQ - Eu acredito mais na sensibilidade de homens, como os do sertão, que lidam com a terra, com plantas e animais do que os que lidam com plásticos e automóveis. Isso não significa que dentre estes não existam pessoas sensíveis, mas é minha opção de crença. Os fazendeiros de outras regiões e do sertão, muitos, reconhecem, admiram e respeitam o trabalho do vaqueiro e, certamente, vão reconhecer. Aqueles que não o fizeram até então, que já passou da hora de reconhecer esses direitos, devem fazê-lo.  Depois os vaqueiros têm bom senso, sensibilidade e são sábios...  Saberão negociar com seus patrões dentro das suas possibilidades.


FC. 6 – A questão da seca que assola o sertão poderá influenciar para o não cumprimento da Lei?

WQ - A seca jamais deveria, não deve e não deverá ser óbice para seu cumprimento. Até porque, sabe-se, é fenômeno cíclico e já sabemos a previsão do período em que ocorrerá a próxima. Isso é dado estatístico e fruto de estudos. Qualquer escola de geociências informa.  Os governos sabem e têm obrigação de cuidar disso. Em especial não deixar que penalize os mais necessitados. Não o fizeram nem o fazem de forma definitiva porque não há determinação política.

Seria imperdoável e inadmissível para qualquer política nacional que a seca, ainda mais do que penaliza, viesse a sacrificar os direitos legais trabalhistas de um assalariado historicamente injustiçado. Mas se isso acontecer, só resta uma alternativa, a justiça trabalhista e organização para reivindicar esses direitos.

FC. 7 – Em sua opinião, qual região do país, essa profissão de vaqueiro será mais rapidamente reconhecida pelos empregadores em cumprir o que determina a Lei?

WQ - É difícil essa resposta com precisão. A lei é para todo Brasil, independente de região. Esperamos que no Nordeste, onde os vaqueiros historicamente têm sofrido muito, haja boa vontade e compreensão por parte dos patrões e que os municípios e estados, viabilizem ações no sentido de conscientizar os empregadores para a necessidade de reconhecer os direitos dos vaqueiros e dar-lhes  uma nova perspectiva de qualidade de vida.

FC. 8 – O que esses trabalhadores que representam à cultura nordestina, podem esperar da dessa lei? Será que vai mudar a realidade do sertanejo?

WQ - Sem dúvida há um cenário favorável nesse momento. O Brasil está se cansando de injustiça. É verdade que em sociedade, é muito raro as mudanças repentinas, elas são mais processuais. Mas se a gente observar o volume de notícias, em todo Brasil, que a Regulamentação da Profissão de Vaqueiro gerou, nos mais diversos veículos de comunicação, inclusive nas grandes redes nacionais, com reportagens longas, podemos pelo menos, ter a esperança de que existe uma demanda de simpatia represada pela causa de querer se fazer justiça, também, para com os vaqueiros. Quem esteve no Senado Federal viu e sentiu isso. E quem observou o noticiário nacional, estadual, nos mais diversos veículos, nos dias 23, 24 e 25 de setembro passado, pode constatar isso. É preciso capitalizar esse momento e fazer avançar o processo de estabelecimento e uso da lei para assim contribuir com essas mudanças para os sertanejos, em especial os vaqueiros.  
(*) Autor da mais extensa pesquisa feita sobre os vaqueiros.


 FC. 9 – Qual foi à reação dos vaqueiros da Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco, mais especificamente, os vaqueiros de Serrita, ao chegarem a Brasília?


WQ - Eu viajei de ônibus com os vaqueiros da Bahia. Ficamos quatro dias juntos. Meu contato com os vaqueiros de Pernambuco (Serrita) se deu já no local em que nos hospedamos. Ficamos em contato da hora que chegamos, (15 horas do dia 23/09) em Brasília até a saída no dia 24 à noite. Foi uma interação maravilhosa.  Conversamos e nos reunimos à noite, todos, os da Bahia e de Pernambuco; fizemos filmagens, fotos, aboios. Uma pena que os vaqueiros de Alagoas não participaram dessa interação, pois eles não estavam hospedados no mesmo local que ficamos. Encontramos-nos, somente na hora da votação. Mas a reação, pelo menos, os da Bahia - que nenhum conhecia Brasília e, creio que os de Pernambuco também -, foi de alegria, deslumbramento, alumbramento, grande momento de culminância. Ficaram em êxtase! Desde a chegada na rampa do Senado, onde dezenas de fotógrafos os esperavam e corriam atrás deles à entrada no Senado, foi simplesmente fantástico! Eu vi ministros na entrada do Salão Negro querendo ser fotografados com os vaqueiros. Na chegada à galeria, onde ficaram os vaqueiros da Bahia e Pernambuco, e na tribuna de honra, onde ficaram os vaqueiros de Alagoas, era só alegria. Eu vi vaqueiros emocionados, disfarçadamente, levando as mãos aos olhos. Cenas belíssimas, indescritíveis, que, felizmente todo Brasil pode ver nas inúmeras reportagens e nas imagens que registramos para um documentário “Regulamentação da Profissão de Vaqueiro” que estamos levantando recursos para sua edição em Full HD. Enfim, para mim, um dos momentos mais marcantes da minha vida. Recebi centenas de mensagens parabenizando, inclusive de escritores famosos. E de pessoas que chegaram a se emocionar quando viram a notícia.

Vaqueiros com o presidente do Senado Renan Calheiros, Washington Queiroz e a Senadora Lídice da Matta


FC. 10 – Como foi à recepção por parte dos políticos, para com os vaqueiros?

WQ - O discurso deles pode ser lido na página do Senado na internet. Foi unanimidade. Um a um os senadores que se pronunciaram exaltavam e reconheciam o significado histórico e o sentido de reparação social que a Regulamentação da Profissão de Vaqueiro trazia para o país. Muitos disseram que se tratava de um dos dias mais importantes na história do Senado. A senadora Lídice que foi como já dito, quem eu busquei para fazer o projeto andar, fez o discurso belíssimo. O presidente do Senado também exortou a importância do vaqueiro para o país, em especial, para o Nordeste. A ministra da cultura Marta Suplicy, que estava lá para acompanhar a votação da PEC da Música, posou para ser fotografada com os vaqueiros e assim outros, como um ex-ministro da saúde. Não só dos políticos, da imprensa também, uma excelente acolhida, dos funcionários, populares...  

FC. 11 – Após a sanção da lei, o que os vaqueiros devem fazer para que seja cumprido o que está na lei?

WQ - Buscar seus patrões para conversar e ter suas carteiras assinadas como vaqueiro. Procurar se organizar em nível municipal, estadual e, depois, vamos tentar que organizem uma representação de cunho federal. Aqui na Bahia já estávamos com tudo preparado para realizar em 22 de outubro o I Encontro dos Vaqueiros da Bahia (EVAB). Mas, independente da nossa vontade, foi suspenso. Mas vamos fazer. Os vaqueiros da Bahia, na volta da viagem a Brasília, disseram-me que podia organizar e chamar que eles viriam.  Até de cavalo e que eu não precisava me preocupar com alimentação e hospedagem. E preciso conhecer o sertão para saber do que esses homens são capazes.

Vaqueiros no gabinete do presidente do Senado Renan Calheiros

FC. 12 – Caso, não aconteça o esperado por parte dos empregadores, o que os vaqueiros devem fazer?


WQ - Primeiro conversar, mas enquanto eles não têm uma organização que os represente em nível municipal, estadual e federal, vão ter que se valer com os tribunais de justiça, serviços de defensorias públicas, sindicatos amigos, advogados amigos.
 
Vaqueiros de Serrita proseando com Washington Queiroz

FC. 13- O senhor falou-me por telefone que o presidente da Associação dos Vaqueiros de Serrita, senhor Julio, convidou-o para a missa do vaqueiro em Serrita, confirma sua presença? Como foi essa prosa?

WQ - Os vaqueiros de Pernambuco são especiais. Júlio é uma pessoa especial. É um legítimo líder, representante dos vaqueiros de Serrita e Pernambuco. É um sábio sobre as coisas da vaqueirice.  Humilde e generoso como todo vaqueiro. Desde que nos encontramos no Albergue, junto com os outros vaqueiros para fotos e aboios, filmagens e depois, sentados ali na galeria do Senado, ficamos proseando. Ai ele me convidou para eu ir a Serrita. Eu perguntei se tinha lugar para ficar, ele disse “não falta lugar não”. Então eu disse que iria. E se quisessem eu poderia, durante a Programação da festa, participar com uma palestra sobre os vaqueiros e a exibição do filme para todos os vaqueiros presentes. Portanto, está confirmado, apenas ficarei aguardando o contato para acertar data etc.

FC. 14 – Para encerrar a entrevista, gostaria de saber qual a sua mensagem para os vaqueiros?

WQ - Que eles continuem firmes e orgulhosos do que são e representam para o país, pois este Brasil em boa parte foi construído por eles. Sem eles e sem a cultura sertaneja que produziram e que teve um papel fundamental na criação e formação do território nacional, ao país ficaria faltando um pedaço significativo.

Um grande abraço em todos os vaqueiros, em especial de Serrita/ Pernambuco e da Bahia. E de todos os outros estados do Nordeste, mas também aos vaqueiros da Ilha de Marajó, do Pantanal Mato-grossense, dos Pampas Gaúchos, de Minas, enfim de todo Brasil.
 
O Vaqueiro Julio presidente da Associação dos Vaqueiros de Serrita e o antropólogo Washington Queiroz nas dependências do albergue em Brasília

(*) Poeta e antropólogo. Autor da mais extensa pesquisa feita no país sobre os vaqueiros. Tem vários livros publicados etc. É ex-membro dos Conselhos de Cultura da Bahia e do Conselho Nacional de Política Cultural/Minc. É membro do C. S. de Patrimônio Imaterial/CNPC. É funcionário da SECULT-BA, do seu Centro de Culturas Populares e Identitárias, onde trabalha com cultura do sertão.   

Entrevista concedida a administradora do Blog da Serrita, Fátima Canejo em 24 de oubrubro de 2013





DILMA VENCE NO 1º TURNO MESMO SE MARIANA FOR CANDIDATA


Em três dos quatro cenários avaliados pelo instituto, Dilma tem entre 39% e 41% das intenções de voto, mais do que a soma das preferências pelos adversários.

Pesquisa Ibope em parceria com o Estado mostra que, se as eleições fossem hoje, a presidente Dilma Rousseff (PT) venceria no 1º turno seus prováveis adversários: Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Com Marina Silva no lugar de Campos, a oposição reforçaria as suas chances.

A possibilidade técnica de 2º turno, porém, só ocorre hoje quando o cenário inclui a ex-ministra do Meio Ambiente no lugar do governador de Pernambuco e o ex-governador tucano José Serra no lugar do senador mineiro. Em uma eventual segunda rodada da disputa, Dilma venceria com folga Marina, Campos, Aécio e Serra, aponta o Ibope.

Nas simulações de 1º turno, Dilma aparece com 39% a 41% das intenções de voto nos quatro cenários avaliados. Em três deles, ela teria hoje mais do que a soma das preferências pelos adversários - condição necessária para vencer no 1º turno.

A vantagem da presidente (41%) é folgada quando seus adversários são Aécio (14%) e Campos (10%). Nesse quadro - o mais provável, dada a composição de forças existente hoje no PSDB e no PSB -, Dilma tem 17 pontos porcentuais a mais do que a soma dos concorrentes.

No cenário com Serra, o tucano teria 18%, quatro pontos a mais que Aécio. Campos continuaria com seus 10% e Dilma oscilaria para 40%. A vantagem da presidente sobre a soma dos adversários seria menor, mas ainda confortável: 12 pontos.

A situação muda com a inclusão de Marina nas simulações - não porque ela consiga tirar votos de Dilma, mas por causa da queda acentuada no número de indecisos. No cenário com Dilma e Aécio, Marina aparece com 21%, mais do que o dobro do índice de Campos - embora a petista e o tucano tenham apenas oscilado para baixo, respectivamente, dois pontos e um ponto porcentual. A vantagem da presidente sobre a soma dos rivais, nesse caso, encolhe para cinco pontos.

Na alternativa com Dilma e Serra, Marina volta a aparecer com 21%, atrás da petista (39%) e na frente do tucano (16%). A vantagem da presidente sobre os adversários somados, porém, praticamente desaparece: 39% a 37%, dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência, o que explica a vantagem menor de Dilma nos cenários testados com Serra e Marina é o fato de esses candidatos serem mais conhecidos pelo eleitorado do que Campos e Aécio.

Marina pretendia se candidatar à Presidência pela Rede Sustentabilidade, partido que vinha organizando desde o ano passado. Mas a legenda não coletou o número mínimo de assinaturas de eleitores para obter registro na Justiça Eleitoral.

Plano B. O plano B de Marina foi se filiar às pressas no PSB de Eduardo Campos, a quem declarou apoio. Seu nome foi incluído nos cenários pesquisados pelo Ibope porque há especulações no mundo político sobre a viabilidade da candidatura de Campos, bem menos conhecido e com menos base social do que sua potencial companheira de chapa.

O mesmo ocorre em relação a Serra: Aécio domina hoje o PSDB, mas o ex-governador de São Paulo diz ter mais chances de vitória nas urnas e diz que o partido ainda não definiu seu candidato para 2014.
Em um eventual segundo turno, Dilma venceria todos os adversários avaliados pela pesquisa Ibope Estadão.

Contra Marina - o cenário mais apertado -, a presidente teria 42% contra 29%. Com Eduardo Campos na disputa, a presidente teria vantagem de 27 pontos porcentuais, vencendo por 45% a 18%.
Fonte: Estadão.com.br

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O PETRÓLEO É NOSSO


“Estou aqui para confundir, não para explicar”.

O bordão é do saudoso apresentador de TV Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Com seu jeito espalhafatoso e escrachado, o comunicador alegrava as tardes de sábado dos brasileiros com o programa Cassino do Chacrinha.

Passados 25 anos da morte do Velho Guerreiro, o pré-candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, subiu à tribuna do Senado para se apropriar indiscriminadamente do bordão de Chacrinha.

Ao se referir ao leilão do campo de Libra, do pré-sal, disse, em tom de ironia, que o governo fez a “maior privatização da história brasileira”.

Na sua estratégia de mais confundir do que explicar, Aécio ou ignora a história do partido do qual tornou-se uma das principais lideranças, ou rejeita a semântica. Vamos lá.

Privatização significa passar para o domínio privado o que é do poder do Estado. Foi o que o governo FHC fez,por exemplo, em 1997, com a mineradora Vale do Rio Doce.

Maior produtora de ferro do mundo, a companhia foi vendida por 3,3 bilhões de dólares – dinheiro que escorreu para o ralo da dívida pública nominal. Em 2011, seu valor de mercado era de 190 bilhões de dólares. E o Estado ficou de mãos abanando.

Concessão, por sua vez, é quando o governo concede licença para exploração por um tempo determinado. O patrimônio continua com o Estado. No leilão de Libra, o modelo adotado foi de partilha, em que 85% da riqueza fica com o governo e a gestão e a fiscalização das operações serão feitas pela Petrobras.

O retorno será de mais de 1 trilhão de reais em 30 anos, com parte dos investimentos carimbados para saúde e educação.

Quem não entendeu isso, pode voltar a sintonizar no Cassino do Aécio e viver a fantasia de um mundo neoliberal povoado de chacretes a gritar:

Quem quer bacalhau?

“COMBATE À POBREZA OFUSCOU AGENDA DO DESENVOLVIMENTO E DA REDUÇÃO DA DESIGUALDADE”, diz pesquisador.

Após dez anos no poder, o PT ainda não venceu o desafio de reduzir substancialmente as desigualdades no País. É isso o que sinaliza o estudo O Brasil Real: A Desigualdade para Além dos Indicadores, lançado pela editora Outras Expressões.

Encomendado pela organização européia Christian Aid e realizado por um conjunto de seis pesquisadores, ligados ao Centro Brasileiro de Análise de Planejamento (Cebrap), o estudo não nega os avanços ocorridos nos governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Procura, no entanto, ir além do festejado surgimento de uma nova classe média no País.

O coordenador da equipe de pesquisadores, o professor de história econômica Alexandre de Freitas Barbosa, refuta esse conceito e afirma que as mudanças ocorridas no Brasil recentemente estão ligadas, sobretudo à valorização real do salário mínimo, que deu maior poder a uma enorme massa de trabalhadores que ganham de um a três salários e realizam sobretudo atividades manuais.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido festejado como um ponto histórico de inflexão na redução da pobreza. O senhor concorda?

Não há como negar que houve uma redução substancial da pobreza no Brasil. Diferentes tipos de indicadores apontam isso. Ela começou um pouco antes do governo Lula, mas a inflexão mais forte ocorreu entre 2004 e 2009. Pela primeira vez na história, o Brasil viveu um processo de crescimento econômico com democracia e redução da desigualdade de renda.

A que atribui isso?

Os motivos são vários: melhoria do quadro externo, redução dos juros, retomada dos investimentos do governo federal, gastos populares – em razão do emprego, do crédito e do salário mínimo em elevação – , programas de transferência de renda e outros. Houve uma retomada do papel do Estado como indutor da demanda, inclusive por meio do investimento – o que atiçou as expectativas de retorno por parte dos empresários, permitindo a aceleração do crescimento econômico, especialmente entre 2006 e 2008.

Mas o estudo que o senhor coordenou relativiza esse avanço, destacando a permanência da desigualdade.

O grupo que eu coordenei tentou agregar, de maneira mais substantiva, algumas questões a esse debate. Para começar: o que é pobreza e o que é desigualdade? Os indicadores comemorados são os que apontam a redução da pobreza absoluta. E como eles funcionam? Você define um patamar, abaixo do qual todos os indivíduos são pobres. Quando um desses indivíduos ou família consegue avançar meio centavo acima desse patamar, deixa de ser pobre. No caso da desigualdade, o indicador é relativo, construído a partir da comparação entre os ganhos dos 10% mais ricos e os dos 10% mais pobres, utilizando dados da Pnad, que mede a renda do trabalho.


Não teria havido redução da desigualdade?

O Índice de Gini, uma das medidas mais comuns para a abordagem das desigualdades sociais, revela uma redução expressiva dessas desigualdades. Não há dúvida. O que estou querendo entender é como isso ocorreu e qual é a sustentabilidade do processo. Ao contrário do que é divulgado, não foram os programas sociais os principais responsáveis pelas mudanças. Os estudos do Ipea apontam que elas estão relacionadas em grande medida ao mercado de trabalho. O Brasil, num período de crescimento econômico, conseguiu fazer com que a renda do trabalho crescesse.

Do ponto de vista da desigualdade, portanto, a questão salarial pesou mais que os programas sociais?

Sim. Além do crescimento econômico e de seu reflexo no mercado de trabalho, o governo reforçou a política de elevação do poder de compra do salário mínimo, impactando os níveis de renda da mão de obra menos qualificada e dos beneficiários da previdência social. Resta perguntar agora qual o padrão de emprego que essas pessoas têm, se contribuem para previdência social, se têm acesso à saúde, à educação de qualidade – que são indicadores de desenvolvimento no sentido mais amplo. Você pode reduzir a pobreza mantendo altos índices de desigualdade e dificuldades de acesso a políticas públicas. Não basta mostrar ganhos monetários. Outra pergunta a ser feita é: com a configuração atual do mercado de trabalho, tenho margem para continuar reduzindo a desigualdade?

Ao apontar o peso salarial nas mudanças, o senhor deduz que as áreas mais beneficiadas foram as mais ricas. Como?

O Brasil é um País muito complexo. A queda mais significativa das desigualdades ocorreu nas regiões mais ricas, onde existem mais assalariados, onde a massa salarial é maior. Isso contraria aqueles que afirmam que os Estados mais ricos estariam sustentando a queda na desigualdade com transferência de renda para os pobres do Nordeste. Foram os segmentos mais pobres regidos pelo salário mínimo que conseguiram mais avanços.

Como definiria esses segmentos? É a tal nova classe média?

Trata-se da típica classe trabalhadora que teve um aumento do poder de consumo. O que se deve pensar agora é como ela pode continuar acompanhando os ganhos de produtividade. O crescimento do nível de emprego no País ocorreu principalmente nos segmentos de baixos salários. Em cada dez postos criados no setor formal, nove têm remuneração inferior a três salários mínimos. No Brasil, 50% da estrutura ocupacional é constituída por pessoas que não têm direitos trabalhistas, nem previdenciários, e que realizam atividades manuais. É isso que está sendo chamado de nova classe média?

Os indicadores apontam que nesse meio a renda aumentou, as condições de vida melhoraram , o nível de emprego subiu.

Isso é o que se diz. O que não se diz é que o nível de renda usado na comparação é o de 2003, o mais baixo da história brasileira desde 1990. O que não se discute é qual tipo de inserção ocupacional está ocorrendo, em que tipo de habitação as pessoas vivem, que tipo de formação profissional possuem, que tipo de escola matriculam suas crianças, que tipo de serviço de saúde podem acessar.

Essas questões estão relacionadas à medição da desigualdade?

Sim. Para afirmar que houve redução substantiva da desigualdade, teria que se comprovar que houve uma ampliação substantiva das políticas universais. Não houve. Essas políticas são muito caras do que as transferências de renda.

Pode-se concluir que os programas sociais não são tão importantes?

Eles são fundamentais, mas não suficientes para promover alterações mais profundas na questão da desigualdade. O que me preocupa é que o problema até tende a se agravar se o governo continuar achando que, ao atacar a pobreza extrema, está automaticamente atacando a desigualdade. Concentrar recursos naqueles que mais precisam, de forma isolada, no intuito de melhorar suas condições é a linha de atuação mais confortável: evita atritos com a ampla coalizão política que apoia o governo, propicia estatísticas positivas e garante dividendos eleitorais. Atacar a desigualdade não é uma coisa estática, de tirar do rico para entregar ao pobre. O padrão de desenvolvimento é que permite acumular mais capital, gerar mais produtividade, permitir que os ganhos do trabalho avancem à frente dos ganhos do capital. O padrão de desenvolvimento tem que assegurar continuamente o aumento da renda dos de baixo a partir da dinâmica do trabalho, das negociações coletivas, e de mudanças estruturais.

Quais mudanças?

Uma delas é a reforma tributária. No Brasil a concentração em impostos indiretos, mais regressivos, contribui para baixar a renda disponível dos pobres e elevar a dos ricos. Também é preciso desonerar a folha de pagamento, para aumentar a competitividade. É preciso, como já disse, discutir habitação, saneamento, educação, saúde, todas as políticas de infraestrutura, porque todas elas podem contribuir para reduzir a desigualdade de oportunidades.

Para alguns analistas, o investimento na educação é o melhor caminho para a redução das desigualdades.

Se analisar os índices que medem o prêmio salarial de acordo com o nível de educação, verá que eles caíram em todos os lugares. Como a desigualdade em grande medida se reduziu pelo aumento do salário mínimo, quem mais ganhou foi quem tinha menor escolaridade. Nesse caso, a redução da desigualdade não esteve relacionada à melhoria da educação.

Mas ela pode trazer vantagens.

Pode trazer se a economia gerar postos de trabalho que exijam uma melhor qualificação. Para absorver mais engenheiros é preciso construir mais usinas hidrelétricas, mais aviões. Os países que tiveram mudança expressiva na sua estrutura ocupacional relacionada à educação tiveram uma política industrial de desenvolvimento acoplada. A Coreia do Sul é o exemplo mais típico. No Brasil, o pouco que está acontecendo na área industrial são movimentos espasmódicos, comandados pelo curto prazo.

O estudo sugere que, se não forem acoplados a políticas mais amplas, programas sociais podem agravar desigualdades.

Exatamente. Imagine uma região pobre do Nordeste, com um grande número de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Se não houver uma alteração no mercado de trabalho, nas possibilidades de acesso a empregos melhores e de mobilidade social, o programa pode acentuar as desigualdades. Quem já controla o comércio, tende a ficar mais rico, porque há mais gente consumindo.

Mas o aumento do consumo também não eleva a produção local?

Não necessariamente. Com os padrões de consumo nacionalizados, eles podem estar consumindo bens produzidos nas regiões Sul e Sudeste.

O governo garante que está atento a isso.

Essa não é a lógica do governo federal, embora existam programas isoladas, como o Pronaf, que vem dinamizando a produção de alimentos em pequenas propriedades. Estamos chegando aqui à raiz do problema. Vejamos: só a valorização do salário mínimo não é capaz de alterar a profunda desigualdade do País; diante disso, programas como o Bolsa Família se tornam necessários; mas é preciso associar a ele outras ações, como a formação de cooperativas, assistência técnica aos pequenos produtores, garantia de compra da produção.

Pode-se dizer que o PT ainda está longe de transformar o Brasil num País menos desigual?

Os governos de Lula e Dilma deram um passo importante ao colocar a questão da pobreza no centro da agenda, mas isso ofuscou a agenda maior, do desenvolvimento e da redução da desigualdade. São agendas que deveriam se completar. O combate duradouro e eficiente à pobreza exige uma agenda do desenvolvimento e do combate à desigualdade.

Em termos mais específicos, o que recomendaria?

É preciso fazer avançar os setores industriais de maior produtividade, maior processamento, maior agregação de valor, maior tecnologia. Isso poderia fazer com que a massa de trabalhadores que vive do salário mínimo passasse para níveis salariais melhores, o aumento da renda ficaria casado com o aumento da produtividade. Todo esse oba oba sobre os avanços não leva em conta que pouco mudou na estrutura ocupacional do Brasil nesse período. O trabalhador que teve aumento de renda, que passou a ser formalizado, ganha entre um e dois salários mínimos. O que eu quero saber é o seguinte: mudou o tipo de atividade que exerce? É requisitada dele maior formação profissional?
Fonte: http://blogs.estadao.com.br

“PRECONCEITO CONTRA BOLSA FAMÍLIA É FRUTO DA IMENSA CULTURA DO DESPREZO”, diz pesquisadora.



Com Isadora Peron

O Programa Bolsa Família fez 10 anos no domingo, dia 20. Quando foi lançado, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, atendia 3,6 milhões de famílias, com cerca de R$ 74 mensais, em média. Hoje se estende a 13,8 milhões de famílias e o valor médio do benefício é de R$ 152. No conjunto, beneficia cerca de 50 milhões de brasileiros e é considerado barato por especialistas: custa menos de 0,5% do PIB.

Para avaliar os impactos desse programa a socióloga Walquiria Leão Rego e o filósofo italiano Alessandro Pinzani realizaram um exaustivo trabalho de pesquisa, que se estendeu de 2006 a 2011. Ouviram mais de 150 mulheres beneficiadas pelo programa, localizadas em lugares remotos e frequentemente esquecidos, como o Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas.

O resultado da pesquisa está no livro Vozes do Bolsa Família, lançado há pouco. Segundo as conclusões de seus autores, o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns setores não têm razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais pobres.
Os pesquisadores também rebatem a ideia de que o benefício acomoda as pessoas. “O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida como qualquer pessoa”, diz Walquiria, que é professora de Teoria da Cidadania na Unicamp.

Na entrevista abaixo – concedida à repórter Isadora Peron – ela fala desta e de outras conclusões do trabalho.

Como surgiu a ideia da pesquisa?

Quando vimos à dimensão que o programa estava tomando, atendendo milhões de famílias, percebemos que teria impacto na sociedade. Nosso objetivo foi avaliar esse impacto. Uma vez que o programa determina que a titularidade do benefício cabe às mulheres, era preciso conhecê-las. Então resolvemos ouvir mulheres muito pobres, que continuam muito pobres, em regiões tradicionalmente desassistidas pelo Estado, como o Vale do Jequitinhonha, o interior do Maranhão, do Piauí…


E quais foram os impactos que perceberam?  

Toda a sociologia do dinheiro mostra que sempre houve muita resistência, inclusive das associações de caridade, em dar dinheiro aos pobres. É mais ou menos aquele discurso: “Eles não sabem gastar, vão comprar bobagem.” Então é melhor que nós, os esclarecidos, façamos uma cesta básica, onde vamos colocar a quantidade certa de proteínas, de carboidratos… Essa resistência em dar dinheiro ao pobres acontecia porque as autoridades intuíam que o dinheiro proporcionaria uma experiência de maior liberdade pessoal. Nós pudemos constatar na prática, a partir das falas das mulheres. Uma ou duas delas até usaram a palavra liberdade. “Eu acho que o Bolsa Família me deu mais liberdade”, disseram. E isso é tão óbvio. Quando você dá uma cesta básica, ou um vale, como gostavam de fazer as instituições de caridade do século 19, você está determinando o que as pessoas vão comer. Não dá chance de pessoas experimentarem coisas. Nenhuma autonomia.

Está dizendo que essas pessoas ganharam liberdade?

Estamos tratando de pessoas muito pobres, muito destituídas, secularmente abandonadas pelo Estado. Quando falamos em mais autonomia, liberdade, independência, estamos nos referindo à situação anterior delas, que era de passar fome. O que significa dizer de uma pessoa que está na linha extrema de pobreza e que continua pobre ganhou mais liberdade? Significa que ganhou espaços maiores de liberdade ao receber o benefício em dinheiro. É muito forte dizer que ganhou independência financeira. Independência financeira temos nós – e olhe lá.

O que essa liberdade significou na prática, no cotidiano das pessoas?

Proporcionou a possibilidade de escolher. Essa gente não conhecia essa experiência. Escolher é um dos fundamentos de qualquer sociedade democrática. Que escolhas elas fazem? Elas descobriram, por exemplo, que podem substituir arroz por macarrão. No Nordeste, em 2006 e 2007, estava na moda o macarrão de pacote. Antes, havia macarrão vendido avulso. O empacotamento dava um outro caráter para o macarrão. Mais valor. Elas puderam experimentar outros sabores, descobriram a salsicha, o iogurte. E aprenderam a fazer cálculos. Uma delas me disse: “Ixe, no começo, gastei tudo na primeira semana”. Depois aprendeu que não podia gastar tudo de uma vez.

A que atribui a resistência de determinados setores da sociedade ao pagamento do benefício?

O Bolsa Família é um programa barato, mas como incomoda a classe média (ela ri). Esse incômodo vem do preconceito.

Fala-se que acomoda os pobres.

Como acomoda? O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida, como qualquer pessoa. Quem diz isso falsifica a história. Não há acomodação alguma. Os maridos dessas mulheres normalmente estavam desempregados. Ao perguntar a um deles quando tinha sido a última vez que tinha trabalhado, ele respondeu: “Faz uns dois meses, eu colhi feijão”. Perguntei quanto ele ganhava colhendo feijão. Disse que dependia, que às vezes ganhava 20, 15, 10 reais. Fizemos as contas e vimos que ganhava menos num mês do que o Bolsa Família pagava. Por que ele tem que se sujeitar a isso, praticamente à semiescravidão? Esses estereótipos tem que ser desfeitos no Brasil, para que se tenha uma sociedade mais solidária, mais democrática. É preciso desfazer essa imensa cultura do desprezo.

No livro a senhora diz que essas mulheres veem o benefício como um favor do governo.

Sim, de 70% a 80% ainda veem o Bolsa Família como um favor. Encontramos poucas mulheres que achavam que é um direito. Isso se explica porque temos uma jovem democracia. A cultura dos direitos chegou muito tarde ao Brasil. Imagino que daqui para a frente a ideia de que elas têm direito vai ser mais reforçada. Para isso precisamos, porém, de políticas públicas específicas. Seriam um segundo, um terceiro passo… Os desafios a partir de agora são muito grandes.


Qual é a sua avaliação geral do programa?

Acho que o Bolsa Família foi uma das coisas mais importantes que aconteceram no Brasil nos últimos anos. Tornou visíveis cerca de 50 milhões de pessoas, tornou-os mais cidadãos. Essa talvez seja a maior conquista.

Entre as mulheres que ouviu, alguma foi mais marcante para a senhora?

Uma das mais marcantes foi uma jovem no sertão do Piauí. Ela me disse: “Essa foi a primeira vez que a minha pessoa foi enxergada”. Tinha uma outra, do Vale do Jequitinhonha, que morava num casebre, sozinha com três filhos. Quando começou a contar a história dela, perguntei qual era a sua idade, porque parecia que já tinha vivido muita coisa. Ela respondeu: “29 anos”. E eu: “Mas só 29?” Ela: “Mas, dona, a minha vida é comprida, muito comprida.” Percebi que falar que “a minha vida é muito comprida” é quase sinônimo de “é muito sofrida”.

Fonte:  http://blogs.estadao.com.br