sexta-feira, 16 de maio de 2025

ANÁLISE DO LANÇAMENTO DA GRADE ARTÍSTICA DA PRIMEIRA FESTA DO JACÓ: MUITO BARULHO NA DIVULGAÇÃO E POUCA GENTE

 O lançamento da grade artística da primeira Festa do Jacó, idealizada pelo prefeito de Serrita em parceria com a Wiliam Produções, ocorreu na noite de ontem no badalado Terraço Cavalheira, no Shopping Recife. Apesar do esforço de produção e da pompa montada, o evento deixou a sensação de que foi muito estardalhaço para pouca novidade.

A programação artística apresentada frustrou quem esperava grandes surpresas. A presença de Wesley Safadão e João Gomes, ambos já figurando na Missa do Vaqueiro de 2023, trouxe mais repetição do que renovação. A única verdadeira novidade foi o anúncio da participação da paraense Joelma, que promete colorir o palco com sua energia contagiante e ritmos como lambada, merengue e carimbó, além das suas já conhecidas botas icônicas e a jogada da peruca.
Com a grade artística divulgada, resta ao público aguardar o evento e curtir o que será oferecido — desta vez não mais de forma gratuita, como era tradição.
Mas, mais do que a programação, o que realmente chamou a atenção foi o cenário político montado no Recife. Um verdadeiro comboio partiu da “terra do vaqueiro” para a capital do frevo, transformando o evento num palanque político disfarçado de lançamento cultural. O prefeito de Serrita desmontou o palanque em sua cidade para montá-lo no Cavalheira, garantindo espaço para vereadores da base, deputados estaduais e federal — além de uma deputada.
Chamou atenção a vestimenta do prefeito, que apareceu trajado a caráter, com colete de couro e chapéu, tentando personificar o vaqueiro nordestino. O vice-prefeito também seguiu o figurino, com peitoral e chapéu de couro, compondo uma imagem cuidadosamente planejada. No entanto, paira a dúvida: as peças foram confeccionadas pelos artesãos locais de Serrita, que tanto lutam por visibilidade, ou teriam sido encomendadas ao renomado artesão cearense Expedito Seleiro? A resposta permanece em silêncio, enquanto os verdadeiros vaqueiros, estes sim legítimos representantes da cultura sertaneja, foram deixados embaixo do palco, servindo de cenário para fotos com influencers contratadas para divulgar o que não é — e o que nunca foi.
A surpresa ficou por conta do deputado Jarbas Filho (Jarbinhas), que trava uma disputa interna com Raul Henry pela liderança do MDB. Raul, por sua vez, ausente, já declarou apoio a João Campos, sinalizando divergências internas no partido e distanciamento do projeto serritense. A governadora, fora do país, não compareceu, e nem mesmo a vice-governadora enviou representante. A ausência de órgãos estaduais como Empetur e Fundarpe também revela um descompasso entre o evento e a política cultural do estado.
O cerimonial da noite ainda teve espaço para mais um deslize do produtor Wiliam, ao destacar a presença dos "secretários principais", numa fala infeliz que soou como menosprezo aos demais integrantes da gestão. E o tom elitista ficou claro quando se anunciou que o acesso à área lounge custará R$150, com possibilidade de parcelamento em 12 vezes no cartão de crédito. Uma medida que escancara o processo de privatização do evento, antes gratuito, e que agora coloca o povo de Serrita diante de uma dura realidade: pagar para ver aquilo que já foi deles.
Dividir R$150 em 12 vezes pode até parecer acessível para alguns, mas para muitos, especialmente os que estão desempregados ou em situação de vulnerabilidade, é um deboche travestido de inclusão. A festa que deveria ser do povo começa a tomar contornos de evento comercial com verniz político, voltado mais para alimentar projetos pessoais e preparar o terreno para 2026 do que para celebrar a cultura vaqueira de Serrita.
Quem ocupou boa parte do público presente foram funcionários da prefeitura, levados em três ônibus pagos com dinheiro público, além de alguns vaqueiros convidados. A cobertura da imprensa foi mínima: apenas o SBT e alguns blogs de Salgueiro compareceram, evidenciando o desinteresse da mídia local e estadual.
Como diz a música de Luiz Gonzaga:
“Pense n'eu vez em quando
Onde estou, como estarei
Se sorrindo ou se chorando” ...



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