quinta-feira, 27 de junho de 2013

INTERPRETANDO AS MANIFESTAÇÕES DAS RUAS



Por: *Adriano Oliveira
As recentes manifestações no Brasil motivaram as ações dos governos. Os valores das passagens do transporte público foram reduzidos; a presidenta Dilma se pronunciou e anunciou diversas medidas, dentre as quais, uma reforma política; parlamentares votaram contra a PEC 37 e aprovaram mais recursos públicos para a saúde e a educação. As manifestações assustaram e continuam a assustar. Porém, alguns esclarecimentos são necessários.

Pesquisa do IBOPE, realizada nos dias 19 e 20 de junho, em variados municípios do Brasil, conforme plano amostral definido, revelou que: 1) 75% dos entrevistados são favoráveis às manifestações; 2) 6% declararam ter participado das manifestações; 3) 35% afirmaram que estariam dispostos a participar; 4) E 63% frisaram que não estavam dispostos a participar.
Os dados mostrados sugerem as seguintes hipóteses: 1) As manifestações foram ações localizadas. Elas não motivaram considerável quantidade de pessoas das variadas cidades do Brasil a irem às ruas; 2) A maioria dos entrevistados apoia as manifestações. Mas ínfima parte está disposta a participar das manifestações.
Se a primeira hipótese for factível, constato que as manifestações são ações realizadas por segmentos específicos da população e que elas não possibilitaram intensa inquietação social no todo do país. A segunda hipótese já está parcialmente comprovada: as pessoas aplaudem as manifestações, mas não “tem tempo” e disposição para participarem delas.

Segundo a pesquisa do IBOPE, 47% dos inquiridos afirmaram que as manifestações produzirão poucas mudanças no país. E 46% consideraram que elas não trarão mudanças na atuação dos governantes e políticos. Então, construo a hipótese de que as pessoas não participaram massivamente das manifestações em razão de não acreditarem que elas são suficientes para mudarem a realidade socioeconômica do Brasil.
Os motivos das manifestações, de acordo com a pesquisa do IBOPE, são: 1) Aumento das tarifas do transporte público, 59%; 2) Contra a corrupção, 32%. Saliento que pesquisa realizada pelo Datafolha na cidade de São Paulo durante manifestação ocorrida no dia 20/06/2013 revela que: 1) 78% dos participantes têm nível superior; 2) 79% utilizam o metrô como transporte público; 3) 61% usam o ônibus; 4) E 20% utilizam o carro.

Os dados apresentados me fazem construir as seguintes conclusões parciais: 1) As manifestações não foram fenômenos de massa que ocorreram no todo do território nacional; 2) As manifestações não motivaram a participação de grande parte da população, apesar desta grande parte, apoiá-la; 3) A maioria da população apoia as manifestações, mas parte dela não acredita que elas são capazes de mudarem a realidade; 4) As manifestações não foram realizadas por variados segmentos socioeconômicos; 5) As manifestações foram incentivos para assustarem os políticos, mas elas não foram capazes de criar uma densa e ampla inquietação social em todo o território nacional e entre os variados segmentos socioeconômicos; 5) As manifestações representam inquietação social com o “sistema”, este reconhecido como um conjunto de problemas que não são resolvidos pelos atores políticos.
*Adriano Oliveira é professor, consultor e cientista político.
Fonte: Blog do Inaldo Sampaio

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