sábado, 27 de julho de 2013

LIVRO RECONTA A HISTÓRIA DA MISSA DO VAQUEIRO

Jornal do Commercio/Caderno C/27/07/2013
Latim nem pensar. Maria, Joaquim, Lurdes, Antônio, crianças, adultos e velhos rezam “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, sob um sol infernal, uma oração de louvor e pedido de proteção. Mas não rezam em latim. O Pai Nosso é um aboio, é em repente, em versos. Em Serrita, a 540 quilômetros do Recife, a Missa doVaqueiro, que acontece amanhã, às 10h, é símbolo de fé e de tradição popular.

Foi recolhendo imagens, histórias e depoimentos de quem lida com este universo que se criou o livro Missa do Vaqueiro – 40 anos, lançado hoje, na cidade, às 19h. Na ocasião, também acontece a apresentação do CD Rezas de sol para a Missa do Vaqueiro, uma reedição dos cânticos que são trilha sonora da cerimônia, agora gravados em ritmo de forró pé de serra, com produção musical de José Milton.
Os dois trabalhos (ambos financiados pelo Funcultura) marcam as comemorações de quatro décadas de festa – completados em 2012 –, que começou como uma homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, assassinado brutal e misteriosamente numa emboscada em plena caatinga. “Há alguns anos, eu vinha pensando num projeto para dar visibilidade à missa. Então surgiu a idéia de criar o livro. Um livro que pudesse falar do vaqueiro, da história da missa e trazer também para discussão a musicalidade que tem papel fundamental no evento, e tem como aspecto marcante a presença de Luiz Gonzaga”, lembra a produtora Roberta Jansen.

Missa do Vaqueiro – 40 anos compila imagens, versos e textos de quem entende do assunto. “A princípio, Helena Câncio (presidente de honra da Fundação Padre João Câncio) conversou com o pesquisador Frederico Pernambucano de Melo, que estuda o universo do cangaço, e o convidou para escrever sobre o vaqueiro. Em seguida, pedirmos à jornalista Adriana Victor, por ter experiência também na área, para escrever sobre a Missa. Ela ficou muito feliz. No livro, Adriana narra o que representa a festa e a cerimônia para o povo sertanejo.” Frederico Pernambucano de Melo - que em dezembro do ano passado lançou a biografia do libanês Benjamin Abrahão, fotógrafo do bando de Lampião – escreve o texto de introdução do livro, apresentando um panorâmico histórico-social do papel do vaqueiro no sertão nordestino. Figuras que ainda pelejam uma vida em meio à aridez e à escassez da região, e não têm a profissão regulamentada oficialmente.
Toda a costura documental da obra é feita pelas belas imagens de HANS VON MONTEUFFEL, JOANA CALAZANS e JOÃO ROGÉRIO FILHO, legendadas com versos dos poetas Pedro Bandeira (o único vivo da tríade criadora da Missa, junto com Padre João Câncio e Luiz Gonzaga) e Beto Brito.


O que faz do livro MISSA DO VAQUEIRO – 40 anos um registro ainda mais delicado e belo sobre a tradição popular e a fé do povo nordestino é o olhar preciso e emocionado da jornalista Adriana Victor, secretária-adjunta da Secretaria Especial do Governador, comandada pelo escritor Ariano Suassuna. Autora em 2006 de um livro sobre a civilização do couro, Adriana mergulhou, desta vez, na Missa do Vaqueiro e das pessoas que fazem do evento uma cerimônia única para relatar em texto a experiência.
“Eu nunca tinha estado na Missa. Fui no ano passado, por causa do convite para escrever o livro. Conversei com pessoas e trago essas histórias no texto”, lembra Adriana. “Eu sou uma pessoa crente de formação católica. Eu creio e é muito bom ver essa fé sertaneja. A força da fé sertaneja” completa a jornalista que, entre os relatos, reproduz uma entrevista com Helena Câncio, viúva do padre João Câncio, cuja história amorosa levanta questionamentos até hoje.

Queijo de qualho e rapadura representando os alimentos do vaqueiro nordestino

Paisagem do sertão/Serrita
João abandonou a batina para se casar com Helena, até então uma adolescente que freqüentava a paróquia onde ele trabalhava. “A gente conversou longamente, ela chorou, riu, puxou pela memória. Achei muito bacana a forma que ela se dispôs a falar, sabendo que o relato ia estar no livro”.
Jornalista Mateus Araújo
Fonte: Jornal do Commercio

Fátma Canejo

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