Por Fernando Castilho, colunita de Economia do Jornal do Commercio
Especial para o
Blog de Jamildo
Complicou. Para quem quer ser presidente da República, o governador
Eduardo Campos já sabe que vai ter que ganhar 2014 porque 2013 para ela
já era. Pode até ser que no meio de uma Festa da Conceição, que só é
data importante no Recife; de uma coxa de peru de Natal ou de uma festa
dessas que o secretário de Turismo do Recife, Felipe Carreiras, está
organizando para animar a festa do Réveillon, ele até ganhe alguma
coisa.
Mas, em nível nacional, o governador de Pernambuco já sabe que vai ter
que organizar uma estratégia de classe mundial para, ao menos, entrar no
embate marcado para outubro. Porque com esse discurso e essa agenda
doméstica não dá.
Isso não quer dizer que não possa organizar sua vida. Eduardo Campos é
um desses animais políticos que, quando menos se espera, surge com um
fato novo que o projeta politicamente. Dito de outra forma: para quem
teve que amargar uma crise como a dos precatórios em 1996 e conseguiu
virar governador reeleito com 80% de votos e com chances de virar
estrela nacional, o diabo é quem duvida do que ele seja capaz.
Mas, aqui para nós e o povo da rua, até agora o que ele pôs na rua é
uma campanha meia boca, mais parecida com a do Náutico, gerido pela
extraordinária “competência” de Paulo Wanderley quando precisa de algo
parecido com o que Gilvan Tavares implantou no Cruzeiro. Ou pelo menos,
com a que Eduardo Bandeira de Mello fez no comando do Flamengo.
Dito de outra forma: para quem quer ser campeão da Série A, Eduardo
Campos está apresentando ao país um planejamento de time de série B. Se
mantido, no máximo pode chegar à quarta posição do certame de acesso.
Para quem quer jogar a Série A, no mínimo, Eduardo Campos devia ser hoje
pelo menos um Palmeiras.
E o governador não pode nem se queixar do juiz. Bem da verdade, no
começo de outubro ele recebeu (de susto, é preciso ficar claro), um
reforço no seu time que nem mesmo a vovó Palmirinha podia imaginar. Num
final de semana, Marina da Silva em pessoa, jogou no seu vestiário um
ônibus de gente e mais um patrocínio de classe mundial que o catapultou à
condição de maior líder da oposição do Brasil, dando-lhe um cartão de
visitas e uma exposição que em situação normal precisaria de meses para
obter. E tudo a um baixíssimo custo.
Feitas as conta políticas, Marina da Silva - depois que o TSE lhe negou
o direito de disputar a Presidência - fez o que qualquer político de
nível nacional faria: Ligou para Eduardo Campos e disse que estava se
"arranchando" no PSB para juntar forças e os dois virarem uma
alternativa de poder.
Era uma sexta-feira, Aécio Neves estava casando em Nova Iorque e
Eduardo Campos arregalou os olhos, deu um grito de urra e mesmo sabendo
que o pessoal de Marina Silva estava se juntando ao PSB apenas para
passar uma chuva, soube aproveitar aquele momento lindo.
É verdade. Marina da Silva deixou claro que não queria casar com ele.
Iriam dormir juntos, mas em quartos separados e toda noite ela tendo o
cuidado de fechar a porta com chave e colocando uma cadeira embaixo da
fechadura. Mais uma vez, dito de outra forma: Eduardo Campos viu que
sozinho era o velho. Marina da Silva, sozinha, era o velho. Mas, os dois
juntos eram o novo. Sabe aquela coisa de menos com menos dá mais?
Eduardo com Marina era isso em outubro.
O problema é que nenhum dos dois soube o que fazer com isso. Pode
parecer cruel, mas a sensação que temos hoje é que os dois ficaram
naquela de você primeiro. Não, você primeiro! Faço questão, você
primeiro. De forma alguma, você primeiro. E o tempo foi passando.
Façamos as contas: Em dois meses Eduardo Campos e Marina Silva fazem o
que? Certamente nenhum dos dois acha que essa ideia de formar uma
plataforma digital para receber contribuições via internet, vai ajudar a
candidatura a decolar. Também sabem que o nível de conversa com os
donos de partidos no Congresso, para dar ao governador de Pernambuco
palanque nos 27 estados, é insuficiente para uma conversa mais firme. E
os dois sabem que o nível de confiança de suas equipes está a
quilômetros de um projeto de governo para um país do tamanho do Brasil
com o nível de complexidade que isso exige.
O problema talvez esteja no fato que o “consórcio” Eduardo/Marina não
ajuda muito para conversar com os atores importantes do Brasil. Quem do
time de Eduardo telefona para gente de peso de São Paulo e marca
conversas diretas? Quem do time de Marina abre esse tipo de porta? Ou
dito mais uma vez de outra forma: até que ponto o encantamento de alguns
empresários e até líderes (de fato) do setor empresarial brasileiro
resiste a uma conversa com Marina Silva e suas ideias quase evangélicas
de economia, agronegócio, finanças públicas inserção do Brasil na
economia internacional e investimento direto de médio e longo prazo?
Isso ajuda Eduardo em quê?
Calma, não pense que se exige aqui um programa de governo ou uma
proposta com opinião de gente da FGV, PUC-Rio, Unicamp e USP. Mas, essa
conversa mole de afastamento das “velhas raposas”, de que é possível
“fazer mais” e de que precisamos de uma “nova política”, não aguenta
dois minutos de negociação de campanha.
A menos que ele esteja pretendendo se enrolar com Marina e a bandeira
nacional e radicalizar a campanha com um discurso ao ponto de que, após
eleito com uma avalanche de votos, o credencie a negociar com todas
essas forças?
O mesmo governador que encanta hoje empresários em São Paulo não
avançou muito pelo Brasil a dentro. Preferiu, em lugar de entrar na
swell (aquela série de ondas que atinge o maior tamanho entre todas) do
efeito Marina, ficar por aqui mesmo. Uma viagem a Ipubi. Uma inauguração
em Tuparetama e vai por aí. Ele não retribuiu, sequer, a visita que
Marina fez ao Recife e foi ao Acre.
E mesmo a viagem à Alemanha e à Inglaterra não teve uma agenda de
candidato presidencial. Ora, ele estava na crista da onda porque foi
conversar com brasileiros lá fora? E aquela entrevista com o Jô na
volta? O Gordo só fez levantar a bola e ele foi falar de redução de
secretaria em Pernambuco?
Talvez, porque o próprio Eduardo Campos ainda esteja pensando da Bahia
para cima e como time de série B. Não há, mesmo incipientemente, uma
estratégia clara de conversa com gente formadora de opinião em São
Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Paraná. Se tiver, está tão escondida que
ninguém soube. Bom, pode ser que ele esteja pensando no texto da Agenda
para um Brasil próspero e competitivo, do Fábio Giambiagi e do Cláudio
Porto que ele assina uma das contracapas.
E pegando uma carona naquela velha propaganda do extinto Bamerindus
(que, aliás, era do Paraná) onde um cliente ouvia uma proposta de um
corretor de seguros da concorrência e perguntava: certo, mas cadê a
proposta da Bamerindus? Ou melhor: qual é a proposta de Eduardo
Campos para o Brasil? Quem vai lhe dar suporte, empresarial, técnico e
acadêmico para gerir um Brasil cansado disso que o PT e o PMDB fizeram?
Por enquanto em São Paulo, por exemplo, as pessoas até gostam de ouvir
seus discursos, mas se perguntam: legal, mas e daí?
É bom repetir: é preciso não subestimar Eduardo Campos. Mas, é preciso
reconhecer que do outro lado, o governo do PT já sabe com quem
conversar. E quando a estultice de Dilma não for suficiente para abrir a
conversa, Lula vai lá e organiza a agenda e a lista de convidados.
Resumindo essa conversa toda: para cachorro novo, Eduardo Campos tinha
que já ter entrando muito mais na mata. Para ficar nesse reme-reme de
criticar o governo Dilma pela periferia, é melhor deixar isso para o
Aécio Neves que quase pede licença para bater no governo do PT. Ou
Eduardo Campos passa a falar num nível estratégico top de linha e se
apresentar ao país pensando globalmente ou vai ficar nesses números que o
novo Datafolha mostra. Embicando.