Logo após a Regulamentação da Profissão dos Vaqueiros, pelos
senadores no dia 24 de setembro passado em Brasília, entrei em contato com o
antropólogo Washington Queiroz para que concedesse uma entrevista exclusiva
para o Blog da Serrita dos Meus Encantos e Desencantos, onde poderia explicar
melhor para os leitores como tudo começou e o seu envolvimento com esta
categoria, que agora, depois de mais de 400 anos, foi reconhecida por Lei.
Com Fátima Canejo
FC. 1 – Como surgiu o seu envolvimento com os vaqueiros da Bahia e
posteriormente do Brasil?
WQ - Moro em Salvador desde os 19 anos, mas
nasci em Feira de Santana. Atrás de minha casa passava a famosa estrada de
boiada. Na infância, via, de cima de uma lata de querosene, por sobre os muros
do quintal, aquelas boiadas imensas a passar... passar... e parecia que não ia
acabar. E os vaqueiros... São imagens inesquecíveis para um garoto de 5 a 9 anos. Creio que é daí o
gérmen desse meu envolvimento. Agora a relação com os vaqueiros do Brasil, é
mais recente e posterior aos estudos.
FC. 2 – Recentemente foi aprovada a Lei de regulamentação da
profissão do vaqueiro, qual a sua participação nesse processo?
WQ - É uma luta histórica de muitos daqueles
que defendem a cultura do sertão e seus primeiros sertanejos – os vaqueiros. Cada
um contribuiu da sua forma, no cinema, na literatura, na música, como Gonzagão,
Elomar etc. No Cordel de tantos; na esplêndida tradição oral... O sertão
comove, seduz... Tenho informações da luta que muitos fizeram pela cultura
sertaneja. Pelos vaqueiros, aqui na Bahia, desde 1954 - o ano em que eu nascia
-, me ocorre o nome de Eurico Alves, poeta baiano, também nascido em Feira, que
quis convencer as autoridades feirenses da época a construir um Museu do
Vaqueiro em Feira de Santana.
Como antropólogo, iniciou trabalhando com
migrantes. Depois com índios da Amazônia e da Bahia em 1984. Após o trabalho conceitual,
que no IPAC, ajudei a construir, sobre a política de preservação do patrimônio
cultural da Bahia, em especial sobre o seu patrimônio imaterial, criei (e
convidei alguns colegas para trabalharem comigo) o projeto Histórias de
Vaqueiros: Vivências e Mitologia. Ai se
inicia, em 1984, o processo que culmina com a aprovação do Reconhecimento e da Regulamentação
da profissão de vaqueiro. E, espero que em breve, possamos comemorar, também, o
reconhecimento do Ofício de vaqueiro – seus saberes e fazeres -, como Patrimônio
Nacional, cujo processo demos entrada e tramita no IPHAN. Aqui na Bahia já
conseguimos. O Ofício de Vaqueiro é Patrimônio Cultural da Bahia desde 2011.
Sobre a minha participação no processo
de Regulamentação, ela se ele deu como professor em sala de aula; através das pesquisas
na peregrinação pelo sertão da Bahia, onde rodei perto de 70 mil km; publicações
em livro, ensaios, artigos, palestras, entrevistas etc. E também na militância;
articulações e agora, (o que foi decisivo para a aprovação) com a minha amiga
Senadora Lídice da Mata. Ou seja, sempre buscando sensibilizar as pessoas em
prol da causa por onde quer que eu tenha passado como aconteceu mais
recentemente nas Conferências, Estaduais e Nacionais de Cultura, no Conselho
Estadual de Cultura da Bahia e no Conselho Nacional de Política Cultural do
Minc. E atualmente na Secretaria de Cultura da Bahia, no Centro de Culturas
Populares e Identitárias – CCPI, onde trabalho. E, em nível nacional, agora, no
Colegiado Setorial de Patrimônio Imaterial do CNPC, onde sou membro.
FC. 3 – Como aconteceu a ida desses vaqueiros para Brasília? Quem
articulou e quem patrocinou a viagem, estada e alimentação?
WQ - Após a luta que tivemos em 2010 e
2011 para aprovação na Câmara (com a colaboração do ex-deputado Edson Duarte,
ao qual procuramos e que trabalhou junto com o ex-deputado Mão Branca - grande
defensor da cultura sertaneja), o
Projeto de Lei já estava a mais de dois
anos aguardando para ser votado no Senado Federal. Via Conselho Nacional de Política Cultural –
CNPC/Minc, propusemos, e foi aprovada por unanimidade, uma Recomendação ao
Senado pedindo o Reconhecimento e Regulamentação; no dia 13 de dezembro de 2012
pedi, pessoalmente, a Senhora Ministra da Cultura Marta Suplicy (que é
senadora), mas o projeto continuou parado no Senado. Então, decidi procurar uma
pessoa amiga, a Senadora Lídice da Mata. Expus a situação para ela e pedi ajuda
para o plano de entrar no Senado no dia votação com 150 vaqueiros encourados...
Precisava da sua ajuda para fazer o Projeto andar no Senado. Ela imediatamente
se sensibilizou e começamos a trabalhar. Fiz um texto/discurso para ela se
embasar, nos articulamos, e a coisa começou a andar. Ela fez todo um trabalho
de convencimento no Senado com vários senadores, fez dois discursos no Senado,
apresentou Requerimento de Urgência que foi aprovado e contou com o apoio do
Senador Renan. Sugeri que além dos vaqueiros da Bahia, seria importante no dia
da votação a presença de vaqueiros de Pernambuco e de outros estados.
Conseguimos sensibilizar Pernambuco e Alagoas e tivemos também alguns
representantes do Piauí e do Maranhão. Desse modo, com apoio de Lídice e de pessoas
amigas, inclusive, no caso dos vaqueiros da Bahia, alguns parentes que contribuíram
e conseguimos transporte para trazermos os vaqueiros até Salvador e, em um
ônibus, levamos os vaqueiros para Brasília. Fui com eles. Foram três mil
quilômetros do dia 22 ao dia 25 de setembro.
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Senadora Lídice da Matta/PSB-Bahia |
FC. 4 - Na sua visão, o que vai mudar na vida desses vaqueiros,
após a sanção da presidente Dilma Rousseff?
WQ - Penso que as coisas não mudam em um
passe de mágica. Uma conduta de quase cinco séculos não se muda da noite para o
dia. Claro, a Lei é um marco legal que dá sustentação jurídica. Os vaqueiros passam
a ter direito de ter a sua carteira de trabalho assinada como Vaqueiro, pois
agora é uma profissão regulamentada pelo governo. Terão direito a férias, 1/3
de férias, 13º salário, horas extras, periculosidade, aposentadoria como
vaqueiro, previdência, seguro desemprego e todos os direitos legais.
Naturalmente, acredito que muitos
patrões serão sensíveis e reconhecerão esse direito de imediato, o que
significa melhorias imediatas para o vaqueiro. Mas nos casos de dificuldade dos
vaqueiros terem seus direitos negados, como qualquer profissional brasileiro,
terá uma base legal na justiça do trabalho para recorrer e fazer valer seus
direitos. Isso sem dúvida, da mais
segurança.
Outra coisa, muito importante, no meu
entender, é que esse reconhecimento da profissão gera auto-estima, confiança,
respeito e valorização da profissão. É simbólico, mas faz, por exemplo, com que
o vaqueiro tenha o reconhecimento não só de fato, mas também de direito de toda
sociedade. Para a família é também importante; para o filho, a mulher etc., vê
que a sua profissão é reconhecida. O vaqueiro deixa de ser social e
culturalmente o excluído para ter o devido pertencimento. Por exemplo, o IBGE
nunca trabalhou em seus censos com a categoria ocupacional “vaqueiro”. Tudo era
trabalhador rural. Não se sabia e não se sabe quantos vaqueiros tem por cada município,
por estado e no Brasil. Agora teremos que ter essa categoria. E, finalmente,
saberemos quantos vaqueiros tem em cada estado e no país. Afinal esse homem é
muito importante para o país, inclusive, para a sua economia. Não podemos
deixar de lembrar que este ano o próprio IBGE divulgou números que informam que
a carne é o 2º maior produto interno bruto do país. E quem é o profissional que
lida direto para que isso aconteça? Isso precisa ser considerado. O vaqueiro
nunca deixou de ter grande importância para o país. Por isso sua situação de
vida precisa melhorar para fazer jus à contribuição que deu e continua dando ao
país.
FC. 5 – O senhor acha que os proprietários de fazendas da região
do sertão, estão preparados para cumprir com o que determina a Lei?
WQ - Eu acredito mais na sensibilidade
de homens, como os do sertão, que lidam com a terra, com plantas e animais do que
os que lidam com plásticos e automóveis. Isso não significa que dentre estes
não existam pessoas sensíveis, mas é minha opção de crença. Os fazendeiros de
outras regiões e do sertão, muitos, reconhecem, admiram e respeitam o trabalho
do vaqueiro e, certamente, vão reconhecer. Aqueles que não o fizeram até então,
que já passou da hora de reconhecer esses direitos, devem fazê-lo. Depois os vaqueiros têm bom senso,
sensibilidade e são sábios... Saberão
negociar com seus patrões dentro das suas possibilidades.
FC. 6 – A questão da seca que assola o sertão poderá influenciar
para o não cumprimento da Lei?
WQ - A seca jamais deveria, não deve e
não deverá ser óbice para seu cumprimento. Até porque, sabe-se, é fenômeno
cíclico e já sabemos a previsão do período em que ocorrerá a próxima. Isso é
dado estatístico e fruto de estudos. Qualquer escola de geociências
informa. Os governos sabem e têm
obrigação de cuidar disso. Em especial não deixar que penalize os mais
necessitados. Não o fizeram nem o fazem de forma definitiva porque não há
determinação política.
Seria imperdoável e inadmissível para
qualquer política nacional que a seca, ainda mais do que penaliza, viesse a
sacrificar os direitos legais trabalhistas de um assalariado historicamente
injustiçado. Mas se isso acontecer, só resta uma alternativa, a justiça
trabalhista e organização para reivindicar esses direitos.
FC. 7 – Em sua opinião, qual região do país, essa profissão de
vaqueiro será mais rapidamente reconhecida pelos empregadores em cumprir o que
determina a Lei?
WQ - É difícil essa resposta com
precisão. A lei é para todo Brasil, independente de região. Esperamos que no
Nordeste, onde os vaqueiros historicamente têm sofrido muito, haja boa vontade
e compreensão por parte dos patrões e que os municípios e estados, viabilizem ações
no sentido de conscientizar os empregadores para a necessidade de reconhecer os
direitos dos vaqueiros e dar-lhes uma
nova perspectiva de qualidade de vida.
FC. 8 – O que esses trabalhadores que representam à cultura
nordestina, podem esperar da dessa lei? Será que vai mudar a realidade do
sertanejo?
WQ - Sem dúvida há um cenário favorável
nesse momento. O Brasil está se cansando de injustiça. É verdade que em
sociedade, é muito raro as mudanças repentinas, elas são mais processuais. Mas
se a gente observar o volume de notícias, em todo Brasil, que a
Regulamentação da Profissão de Vaqueiro gerou, nos mais diversos veículos de
comunicação, inclusive nas grandes redes nacionais, com reportagens longas,
podemos pelo menos, ter a esperança de que existe uma demanda de simpatia
represada pela causa de querer se fazer justiça, também, para com os vaqueiros.
Quem esteve no Senado Federal viu e sentiu isso. E quem observou o noticiário
nacional, estadual, nos mais diversos veículos, nos dias 23, 24 e 25 de
setembro passado, pode constatar isso. É preciso capitalizar esse momento e
fazer avançar o processo de estabelecimento e uso da lei para assim contribuir
com essas mudanças para os sertanejos, em especial os vaqueiros.
(*) Autor da
mais extensa pesquisa feita sobre os vaqueiros.
FC. 9 – Qual foi à reação dos vaqueiros da Bahia, Alagoas, Sergipe
e Pernambuco, mais especificamente, os vaqueiros de Serrita, ao chegarem a
Brasília?
WQ - Eu viajei de ônibus com os
vaqueiros da Bahia. Ficamos quatro dias juntos. Meu contato com os vaqueiros de
Pernambuco (Serrita) se deu já no local em que nos hospedamos. Ficamos em
contato da hora que chegamos, (15 horas do dia 23/09) em Brasília até a saída
no dia 24 à noite. Foi uma interação maravilhosa. Conversamos e nos reunimos à noite, todos, os
da Bahia e de Pernambuco; fizemos filmagens, fotos, aboios. Uma pena que os
vaqueiros de Alagoas não participaram dessa interação, pois eles não estavam hospedados
no mesmo local que ficamos. Encontramos-nos, somente na hora da votação. Mas a
reação, pelo menos, os da Bahia - que nenhum conhecia Brasília e, creio que os
de Pernambuco também -, foi de alegria, deslumbramento, alumbramento, grande
momento de culminância. Ficaram em êxtase! Desde a chegada na rampa do Senado,
onde dezenas de fotógrafos os esperavam e corriam atrás deles à entrada no Senado,
foi simplesmente fantástico! Eu vi ministros na entrada do Salão Negro querendo
ser fotografados com os vaqueiros. Na chegada à galeria, onde ficaram os
vaqueiros da Bahia e Pernambuco, e na tribuna de honra, onde ficaram os
vaqueiros de Alagoas, era só alegria. Eu vi vaqueiros emocionados,
disfarçadamente, levando as mãos aos olhos. Cenas belíssimas, indescritíveis, que,
felizmente todo Brasil pode ver nas inúmeras reportagens e nas imagens que
registramos para um documentário “Regulamentação da Profissão de Vaqueiro” que
estamos levantando recursos para sua edição em Full HD. Enfim, para
mim, um dos momentos mais marcantes da minha vida. Recebi centenas de mensagens
parabenizando, inclusive de escritores famosos. E de pessoas que chegaram a se
emocionar quando viram a notícia.
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Vaqueiros com o presidente do Senado Renan Calheiros, Washington Queiroz e a Senadora Lídice da Matta |
FC. 10 – Como foi à recepção por parte dos políticos, para com os
vaqueiros?
WQ - O discurso deles pode ser lido na
página do Senado na internet. Foi unanimidade. Um a um os senadores que se
pronunciaram exaltavam e reconheciam o significado histórico e o sentido de
reparação social que a Regulamentação da Profissão de Vaqueiro trazia para o
país. Muitos disseram que se tratava de um dos dias mais importantes na
história do Senado. A senadora Lídice que foi como já dito, quem eu busquei
para fazer o projeto andar, fez o discurso belíssimo. O presidente do Senado
também exortou a importância do vaqueiro para o país, em especial, para o
Nordeste. A ministra da cultura Marta Suplicy, que estava lá para acompanhar a
votação da PEC da Música, posou para ser fotografada com os vaqueiros e assim
outros, como um ex-ministro da saúde. Não só dos políticos, da imprensa também,
uma excelente acolhida, dos funcionários, populares...
FC. 11 – Após a sanção da lei, o que os vaqueiros devem fazer para
que seja cumprido o que está na lei?
WQ - Buscar seus patrões para conversar
e ter suas carteiras assinadas como vaqueiro. Procurar se organizar em nível
municipal, estadual e, depois, vamos tentar que organizem uma representação de
cunho federal. Aqui na Bahia já estávamos com tudo preparado para realizar em
22 de outubro o I Encontro dos Vaqueiros da Bahia (EVAB). Mas, independente da
nossa vontade, foi suspenso. Mas vamos fazer. Os vaqueiros da Bahia, na volta
da viagem a Brasília, disseram-me que podia organizar e chamar que eles
viriam. Até de cavalo e que eu não
precisava me preocupar com alimentação e hospedagem. E preciso conhecer o sertão
para saber do que esses homens são capazes.
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Vaqueiros no gabinete do presidente do Senado Renan Calheiros |
FC. 12 – Caso, não aconteça o esperado por parte dos empregadores,
o que os vaqueiros devem fazer?
WQ - Primeiro conversar, mas enquanto
eles não têm uma organização que os represente em nível municipal, estadual e
federal, vão ter que se valer com os tribunais de justiça, serviços de
defensorias públicas, sindicatos amigos, advogados amigos.
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Vaqueiros de Serrita proseando com Washington Queiroz |
FC. 13- O senhor falou-me por telefone que o presidente da
Associação dos Vaqueiros de Serrita, senhor Julio, convidou-o para a missa do
vaqueiro em Serrita, confirma sua presença? Como foi essa prosa?
WQ - Os vaqueiros de Pernambuco são
especiais. Júlio é uma pessoa especial. É um legítimo líder, representante dos
vaqueiros de Serrita e Pernambuco. É um sábio sobre as coisas da vaqueirice. Humilde e generoso como todo vaqueiro. Desde
que nos encontramos no Albergue, junto com os outros vaqueiros para fotos e
aboios, filmagens e depois, sentados ali na galeria do Senado, ficamos
proseando. Ai ele me convidou para eu ir a Serrita. Eu perguntei se tinha lugar
para ficar, ele disse “não falta lugar não”. Então eu disse que iria. E se
quisessem eu poderia, durante a Programação da festa, participar com uma
palestra sobre os vaqueiros e a exibição do filme para todos os vaqueiros
presentes. Portanto, está confirmado, apenas ficarei aguardando o contato para
acertar data etc.
FC. 14 – Para encerrar a entrevista, gostaria de saber qual a sua
mensagem para os vaqueiros?
WQ - Que eles continuem firmes e
orgulhosos do que são e representam para o país, pois este Brasil em boa parte
foi construído por eles. Sem eles e sem a cultura sertaneja que produziram e
que teve um papel fundamental na criação e formação do território nacional, ao
país ficaria faltando um pedaço significativo.
Um grande abraço em todos os vaqueiros,
em especial de Serrita/ Pernambuco e da Bahia. E de todos os outros estados do Nordeste,
mas também aos vaqueiros da Ilha de Marajó, do Pantanal Mato-grossense, dos
Pampas Gaúchos, de Minas, enfim de todo Brasil.
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O Vaqueiro Julio presidente da Associação dos Vaqueiros de Serrita e o antropólogo Washington Queiroz nas dependências do albergue em Brasília |
(*) Poeta e antropólogo. Autor da mais extensa
pesquisa feita no país sobre os vaqueiros. Tem vários livros publicados etc. É
ex-membro dos Conselhos de Cultura da Bahia e do Conselho Nacional de Política
Cultural/Minc. É membro do C. S. de Patrimônio Imaterial/CNPC. É funcionário da
SECULT-BA, do seu Centro de Culturas Populares e Identitárias, onde trabalha
com cultura do sertão.
Entrevista concedida a administradora do Blog da Serrita, Fátima Canejo em 24 de oubrubro de 2013